Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas, a ausência inútil da terceira faz-me falta e assusta-me, era ela que fazia de mim uma coisa decifrável por mim mesma e sem sequer precisar me procurar...
"Lembras-te que o plano era ficarmos bem?" Porque é que sempre que digo adeus tu seguras-me e quando sou tua te recusas? De repente chega ser estranho todo tipo de gostar em que nem me lembro onde ficaram as coisas boas...
"Eu deixo a onda acertar-me, e o vento levar tudo embora".
Só não sei se sinto mais por não me ter ou por sentir a perder-me outra vez... "Dos nossos planos é que tenho mais saudade: quando olhávamos juntos na mesma direcção.
Porém, quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada.
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Por isso digo, quando não obtivermos o amor, o afecto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor rende-se aos nossos pés.
Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos apenas um só caminho...o de mais nada fazer. NADA!
(Clarice Lispector)
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