14 de junho de 2009

TUDO E NADA

...Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Porém, essa terceira perna perdi. E, voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas.
Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas, a ausência inútil da terceira faz-me falta e assusta-me, era ela que fazia de mim uma coisa decifrável por mim mesma e sem sequer precisar me procurar...

"Lembras-te que o plano era ficarmos bem?" Porque é que sempre que digo adeus tu seguras-me e quando sou tua te recusas? De repente chega ser estranho todo tipo de gostar em que nem me lembro onde ficaram as coisas boas...

"Eu deixo a onda acertar-me, e o vento levar tudo embora".

Só não sei se sinto mais por não me ter ou por sentir a perder-me outra vez... "Dos nossos planos é que tenho mais saudade: quando olhávamos juntos na mesma direcção.

Porém, quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada.



Por isso digo, quando não obtivermos o amor, o afecto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor rende-se aos nossos pés.
Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos apenas um só caminho...o de mais nada fazer. NADA!

(Clarice Lispector)

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