11 de agosto de 2009

NUA

Dispo-me de palavras irreflectidas, de memórias passadas, de mágoas cravadas no coração.
Dispo-me de pecados momentâneos.
Dispo-me da máscara que todos os dias teimo em mostrar ao mundo.
Dispo-me de sorrisos sem sabor.
Dispo-me de canções que me lembram pessoas ou acontecimentos.
Dispo-me de mim. De ti jamais.
Dispo-me do Mundo.
Nua.
Mergulho na água gelada da banheira meia vazia.



Inspiro o ar contaminado pelo meu cheiro a pessoa.
Inspiro com força e mergulho a cabeça na água. Também a minha cabeça está nua.
Adormeço e deixo de sentir.
Abro os olhos de repente.
Ergo o corpo despido e já não existem limites.
A banheira deu lugar a um lago perdido no meio do nada.
A água continua gelada e eu continuo despida.
Mas já não há limites.
Passeio o olhar sobre a linha do horizonte.
Qual horizonte?
Não há limites, não há horizonte.
Não há nada.
Sou só eu e a água gélida.
Subitamente a água evapora.
Estou em pé no meio do nada.
Corpo despido.
Perco-me.
Caminho lentamente em busca de nada.
Abro os olhos.
Sonho estranho, este.
Rebolo na cama e procuro dormir novamente.
O relógio marca a meia-noite.
Sinto-me solta.
Solta dos lençóis bordados.
Solta das paredes que me rodeiam.
Solta do chão.
Solta das amarguradas manhãs.
Solta das amarguradas tardes.
Solta das amarguradas noites.
Presa apenas a ti.
Nós...

(Rodrigo & Quebra-nozes)

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